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HISTÓRIA SOBRE A VIDA DE UMA SARDINHA

AS SARDINHAS QUE USAM HOME BROKER

 


Por Marcos Elias - Empiricus

 

Os home brokers são os cassinos nacionais. Adoro jogar, e simpatizo demais com o Aleksei Ivanovitch. Aliás, confesso: muitas vezes eu sou o próprio Ivanovitch, e tenho vontade de meter um processo no velho Fiodor por plágio. Russo safado! Quero dizer com isso que sou mesmo viciado em jogos e defendo com unhas e dentes esta minha cachaça. Nada contra os home brokers. Aliás, tudo a favor! Mas o que quero com este parágrafo é incutir-lhes na cabeça dura que as estruturas de home brokers são verdadeiros jogos de azar.

 

Já fui potencial comprador de uma estrutura de home broker, e fiquei desconcertado quando chequei o plano de negócios oferecido por um vendedor de tal business. Uma das principais métricas para a determinação do NPV do negócio era um troço chamado “expectativa média de vida do usuário (EMV)”. “Porra!”, pensei comigo. “O que tem a ver se o cara que investe em ações pela internet morre com 70 anos ou com 85?”. Apurei a vista e verifiquei que essa métrica, a EMV, era contabilizada em meses e não em anos, e que os valores de referência eram assim: 15 meses, para um cenário otimista e 8 meses para algo pessimista. “O que é isso?”, tomei coragem e perguntei ao vendedor da estrutura. “É a expectativa média de vida de um usuário. Você acha 15 meses puxado? Então altere para 10 meses e simulemos um cenário mais conservador”, ele propôs. O diálogo que se seguiu, a partir deste ponto foi mais ou menos assim:

 

 

Eu: Ainda não entendo!

 

Ele: É a expectativa de vida de um indivíduo como usuário de home broker.

 

Eu: E depois de – digamos – 15 meses o que acontece com ele?

 

Ele: Ele quebra.

 

Eu: Sério?

 

Ele: Na verdade isso é algo otimista, mas factível. Podemos, como lhe disse, simular os economics para 8 meses.

 

Eu: Não, não! Quero dizer...eu pensei que o home broker fosse apenas uma mídia.

 

Ele: Ah, não é. Grande parte acaba mesmo perdendo dinheiro e indo embora. Este tal de EMV está em todos os planos de negócios de todos os home brokers.

 

Eu: Sério? Então isso é feito para quebrar?

 

Ele: Na prática, é assim que tratamos nosso modelo de negócio. Mas há uma reposição natural. Além disso, o sujeito “ferido” depois de dois ou três anos volta à bolsa.

 

Eu: Legal!

 

Ele: Mas é importante permitir que o cliente se alavanque com facilidade e que possamos dar dezenas de calls por dia. Um call meu chega a atrair R$ 10 milhões em ordens.

 

E à medida que a conversa se desenvolvia fui sendo tomado por uma sensação de êxtase. O sujeito à minha frente havia criado um cassino on-line e determinado seus perversos odds. Isso tudo sem demonstrar qualquer sinal de vergonha, nem um leve ruborizar. Delirei! Pisc!

 

Agora havia entendido!

 

Continuamos:

 

Eu: E quanto quer?

 

Ele: Olha hoje eu tenho 30 mil cadastros ativos e isso vale muito.

 

Eu: Imagino que sim! 30 mil vidas!

 

Ele: Isso. Quero R$ 15 milhões por tudo.

 

Eu: Vou pensar.

 

Ele: Pense rápido.

 

Sai exultante da reunião. Quando moleque, sempre imaginei que os cassinos viriam para o Brasil pelas mãos do Silvio Santos ou do Paulo Maluf e a primeira casa de jogos seria instalada na badalada praia das Pitangueiras. E agora havia entendido. O meu Guarujá é cibernético e eu serei um Silvio Santos! Fantástico!

 

Mas então fui para casa, comi uma torta de palmito feita pela minha esposa, assisti às crianças brincarem com trens, e, instantaneamente, toda aquela história de home broker me pareceu surreal. Desisti do negócio. Estava errado. O business era bom e quem comprou ficou rico.