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VALUATION JÁ ERA...

 

 

Por Eduardo Winston – Gestor de recursos.

 

Caros leitores, estes são tempos difíceis para gestores de recursos. A alta volatilidade do mercado eleva substancialmente a pressão sobre estes profissionais, pois qualquer movimento mal calculado pode trazer impactos desastrosos para a carteira de seus clientes. Em tempos assim, todos, sem exceção, colocam suas "bolas de cristal" para funcionar, tentando antecipar os movimentos do mercado. Na verdade, essas bolas de cristal são compostas por algumas sofisticadas equações matemáticas que utilizam um grande volume de informações disponíveis para tentar determinar o comportamento futuro de diversos ativos financeiros.

 

De forma resumida, podemos dizer que desde a faculdade de economia aos mais complexos e avançados cursos de especialização em finanças, aprendemos a traçar curvas que nos apontariam preços justos, pontos de equilíbrio, valor presente, valor futuro etc. Mas tudo isso, baseado em uma premissa de que os agentes econômicos agem sempre de forma racional (logo previsível). Justamente esta premissa nos permitia eliminar o fator humano da equação. Bastaria coletar as informações corretas, aplicá-las aos modelos matemáticos e... bingo! Podíamos prever o futuro. Assim surgiram gerações de respeitados gurus de terno e gravata. Afinal, convenhamos, adivinhação com base matemática é algo praticamente irresistível. Colocado desta forma, pode parecer irônico, mas é justamente isso que todo gestor de recursos faz ao montar uma carteira de ativos. Porém, vem ganhando força uma nova linha de pensamento chamada finanças comportamentais. Eu já tinha ouvido e lido alguma coisa a respeito, mas há alguns meses tive a oportunidade de participar de uma palestra promovida pelo Instituto Brasileiro de Certificação de Profissionais Financeiros (IBCPF) com a participação do economista Aquiles Mosca, um dos maiores estudiosos de finanças comportamentais do país. Foi somente nessa palestra que pude compreender a dimensão da ruptura trazida por esta nova linha de pensamento na qual os agentes econômicos não agem, na maioria dos casos, de forma racional, mas de forma humana, ou seja, impregnados por emoções e preconceitos. Reparem, senhores leitores, a reviravolta que a inclusão desses fatores humanos traz especificamente na gestão de recursos.

 

Até aqui, sempre baseamos nossas decisões de alocação em argumentos estritamente racionais, mesmo sabendo que em cada ponta há um ser humano operando. Racionalmente, dizíamos, por exemplo, que o mercado estava exagerando em uma determinada posição e que deveria haver sempre uma correção destes movimentos exagerados. Contudo, esquecemos que nem sempre as pessoas irão agir de forma racional e, com isso, estes movimentos exagerados, em vez de virem acompanhados por correções baseadas em aspectos técnicos, podem gerar situações de pânico ou euforia no mercado que acentuem ainda mais as distorções. Embora reações como estas, entre outras tantas, não sejam novidade para ninguém, insistimos em analisar o mercado de forma estritamente racional. Não podemos esquecer que a cada dia que passa mais pessoas se interessam e passam a gerir diretamente seus próprios recursos. Isso tende a aumentar o grau de humanização das decisões e, consequentemente, dos movimentos do mercado. Isso deve provocar uma mudança no perfil dos profissionais que atuam no mercado financeiro e acredito que um dos perfis impactados seja justamente o do gestor profissional de recursos. Poderíamos, por exemplo, ver surgir dois novos perfis de gestor. O caçador e o pastor.

 

O primeiro seria aquele que ficaria espreitando, observando, tentando antecipar o movimento da manada para abater sua presa. Já o segundo seria o profissional que conduziria a manada para onde quisesse, alguém com tamanho poder de influência sobre os irracionais agentes, que pudesse influenciá-los e conduzi-los a tomar determinadas decisões. Nos dois casos, valeria mais a habilidade de entender, de antecipar a reação das pessoas do que os conhecimentos técnico-financeiros do gestor. É bem verdade que ainda é cedo para avaliar todos os impactos que o aprofundamento dos estudos de finanças comportamentais pode produzir no mercado financeiro e nos profissionais que nele trabalham. Porém, sem dúvida, a reflexão é válida e, visto a velocidade que as mudanças vêm ocorrendo e o grau de preparo e a capacidade de absorção de informação das novas gerações, é bom que estejamos dispostos a rever tudo o que aprendemos.