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MONEY MANAGEMENT

 

 

BASES PARA CONSTRUIR E CARREGAR

UMA POSIÇÃO EM TREND FOLLOWING
 

Quando se começa a conhecer bem os conceitos por trás do Trend Following vai-se percebendo que a metodologia é muito mais do que um setup, e que a gestão eficiente da carteira vai muito além do que simplesmente dividir o capital entre alguns papéis e ir cegamente seguindo os sinais de entrada e saída indicados pelo setup.

 

Uma posição vencedora e eficiente se constrói com várias entradas estratégicas.

 

Uma gestão eficiente de carteira adequada para Trend Following deve levar em conta que as fases de identificação de uma potencial tendência e o acompanhamento de uma tendência consolidada são momentos diferentes de uma operação, e que portanto merecem tratamentos distintos.

 

Quando um setup qualquer lhe fornece um sinal de entrada em uma operação (seja de compra ou de venda), o que ele está te fornecendo é na realidade uma indicação de que uma potencial tendência está para se consolidar. Apenas isso. Nesse momento não é possível saber se ela será consolidada ou não, ou mesmo se ela será uma tendência de longa amplitude ou não.

 

Agora se some a isso uma outra características da metodologia de Trend Following, que é o de poder estar dentro de uma tendência pelo maior tempo possível, isto é, poder participar dos "Home Runs" do mercado de ações.

 

Juntando as duas coisas fica claro que uma boa gestão de carteira por Trend Following:

 

Não deve ir com muita sede ao pote toda vez que receber um sinal de entrada em uma operação;

 

Deve possuir regras para aumentar sua posição em uma tendência, de forma a participar dos "Home Runs" com a maior carga possível de capital.

 

Essas duas premissas fazem toda a diferença no resultado de uma carteira, e maximizam a idéia de "quando perder, perca pouco, e quando ganhar, ganhe muito".

 

Estar dentro de uma tendência de 100%, 200% ou mais, e vislumbrar ao final que você passou por todo esse processo carregando apenas 10% do seu capital é o cúmulo da ineficiência quando se trata de gestão de recursos. Tal atitude assemelha-se ao motorista que entra e sai de uma curva na mesma velocidade (ou em velocidade inferior, o que é ainda pior) alegando que essa é uma atitude de segurança... todo bom motorista sabe que entra-se mais devagar e a partir de certo ponto a retomada e o incremento da velocidade são as atitudes mais certas e seguras a fazer. Da mesma forma, ao longo de uma tendência há pontos ótimos e estratégicos para se alocar mais capital sem que isso implique em incorrer em mais riscos.

 

Portanto, seja mais crítico quando receber informações do tipo "opere sempre uma carteira fixa de papéis" ou "divida o seu capital em partes iguais para cada papel". Encare essas colocações como ponto de partida, um pré-primário na longa escola de gestão dos seus investimentos, e saiba que além dessa iniciação há um mundo dos mais interessantes e ricos para ser explorado.

 

 

DISTRIBUINDO O CAPITAL ENTRE

OS ATIVOS DA CARTEIRA DE AÇÕES

 

Uma vez que já tenhamos definido o capital total a ser investido, o perfil da carteira de ações e os papéis que irão compor a nossa carteira, chegou a hora de então de definir o percentual de capital a ser destinado a cada ativo.

 

Nesse processo, usualmente damos ênfase na gestão do risco implícito da carteira montada, isto é, ao distribuir o capital procuramos fazê-lo de forma a termos um risco implícito para a carteira em um nível que irá nos deixar confortável para seguir com as operações de acordo com o indicado pelo setup.

Para ilustrar o processo, vamos imaginar uma carteira hipotética composta por três ativos:

 

 

Ativo A: DD Máximo: 05% - PI: 2

Ativo B: DD Máximo: 15% - PI: 3

Ativo C: DD Máximo: 10% - PI: 2

 

Para determinar a distribuição de capital:

 

Fase 1 - Utilizar o PI para determinar o percentual de capital para cada ativo. Então:

 

Somatório do PI da Carteira: 2 + 3 + 2 = 7

Capital para o Ativo A = PI Ativo / PI da Carteira = 2/7 = 0,285 = 28,5 % do capital disponível

Capital para o Ativo B = PI Ativo / PI da Carteira = 3/7 = 0,428 = 42,8 % do capital disponível

Capital para o Ativo C = PI Ativo / PI da Carteira = 2/7 = 0,285 = 28,5 % do capital disponível

 

Fase 2 - Calcular o risco implícito da carteira

 

Risco Implícito do Ativo A = Percentual de Capital Alocado * DD Máximo = 0,285 * 0,05 = 0,0142 = 1,42%

Risco Implícito do Ativo B = Percentual de Capital Alocado * DD Máximo = 0,428 * 0,15 = 0,0642 = 6,42%

Risco Implícito do Ativo C = Percentual de Capital Alocado * DD Máximo = 0,285 * 0,10 = 0,0285 = 2,85%

Risco Implicito da Carteira: 1,42 + 6,42 + 2,85 = 10,69%

 

Fase 3 - Avaliar se o risco implícito está em um nível aceitável para os seus parâmetros

 

Neste exemplo, a distribuição inicial de capital gerou um risco implícito de pouco mais de 10% para a carteira. Esse valor pode ser adequado, estar além ou estar aquém do que é aceitável para o investidor. Se não estiver adequado, o investidor pode rebalancear os percentuais alocados para cada ativo até trazer o risco implícito para o número desejado.

 

E por que insistimos tanto nessa questão de ter o risco em um patamar confortável? Porque se não for assim, certamente você irá abortar as operações de tendência prematuramente, e possivelmente transformará operações potencialmente lucrativas em operações de prejuízo.

 

Como vêem, a questão não é complicada. Quando se põe as coisas no papel, tudo fica mais claro. A verdadeira batalha está em seguir com a organização e planejamento elaborada previamente. Não é nada fácil segurar a tentação de direcionar todo o capital para uma operação que esteja apresentando lucro, ou de retirar capital de uma operação que esteja dando prejuízo. Mas essas tentações têm que ser controladas, e um processo de distribuição de capital em carteira que lhe permita ver claramente o risco implícito ajuda muito nesse caminho.

 

Todo o esforço é feito para que o método lhe permita ficar no processo de investimento por uma longa data, apoiado em cima do fato de que os resultados das operações, quando colocadas na ótica de juros compostos, isto é, resultado sobre resultado, geram evoluções exponenciais na curva de capital.

 

 

DEFININDO O TAMANHO DA OPERAÇÃO

 

Quantas ações cabem em minha sacola?

 

Então durante o período de avaliação do mercado e planejamento de operações, o seu sistema de operação sinalizou uma oportunidade. Chegou a hora de planejar a operação, para depois executá-la.

Bom se você está nesse ponto, então devemos assumir que você já possui em mãos:

 

  • Definição do setup utilizado.
  • Identificação do ativo alvo da operação.
  • Índice de Acerto e Índice de Retorno deste setup para este ativo.
  • Parcela do capital (em % e em valor real) que será colocada em risco na operação.
  • Ponto de entrada (compra) do ativo.
  • Ponto de saída (stop) da operação.

 

Com isso, resta o último passo, que é definir a quantidade de ações que devem ser envolvidas na operação. Esse valor é determinado através de uma conta simples, dada pela seguinte fórmula:

 

Número de Ações = Parcela em Valor Real do Capital em Risco / (Diferença entre o Ponto de Entrada e o Ponto de Saída)

 

Nos casos em que a conta não der um número exato (quase sempre), arredonde sempre para baixo. Esse é um procedimento extremamente simples, mas fundamental para colocar em prática qualquer sistema de Money Management.

 

 

PARCELA DE CAPITAL EM RISCO

 

É usual encontrar em sites e cursos a velha recomendação de não arriscar mais do que 2% do seu capital por operação, e limitar a sua perda mensal a no máximo 6% do seu capital. Essas diretrizes são por muitos empacotadas e passadas aos leitores como uma prática de Money Management. De certa maneira, não deixa de ser uma forma de Money Management, porém altamente simplista e ineficiente.

Uma forma eficiente de Money Management procura equilibrar as buscas do menor risco e do maior retorno. E isso não pode ser feito pela maneira citada acima.

 

Para termos uma forma eficiente de Money Management, buscamos um método que se propõe a determinar a melhor parcela de capital que pode ser colocada em risco para uma operação. Para que isso seja possível, é necessário que tenhamos em mãos os seguintes dados:

 

  • Ativo a ser operado
  • Setup a ser utilizado
  • Índice de Acerto (Win Ratio) deste setup para este ativo
  • Índice de Retorno (Payoff Ratio) deste setup para este ativo

 

A partir destes dados aplicamos a Fórmula de Kelly para determinar a melhor parcela do capital que poderia ser colocada em risco para operações contínuas utilizando o conjunto Setup/Ativo escolhido.

 

Pela Fórmula de Kelly temos que:

 

K% = ( ( (PR + 1) * WR) - 1) / PR, onde

K% = Melhor Parcela de Capital a Ser Arriscada

PR = Índice de Retorno, ou Payoff Ratio

WR = Índice de Acerto, ou Win Ratio

 

Neste caso, a Fórmula de Kelly irá indicar um percentual adequado para maximizar o seu retorno. Porém, isso não basta para você definir a parcela de capital a ser arriscada. O valor indicado pela Fórmula de Kelly irá servir como um "teto", um limite de capital a ser arriscado nessa operação. Mas na prática, normalmente você irá arriscar um percentual menor do que o indicado pela Fórmula de Kelly.

Isso acontece porque queremos, além de ter um ótimo retorno, controlar também o risco. Qual risco? O risco de perder, ao longo do tempo, todo o capital destinado a operar este ativo. E quem nos fornece essa informação é a tabela de cálculo do "Risco de Quebra" (ROR - Risk of Ruin), explicada em post anterior. Assim, usamos a tabela ROR como última etapa do processo de determinação da parcela de capital a ser posta em risco.

 

 

RISCO DE QUEBRA

 

Por melhor que seja o sistema de operação, a sua estrada é você quem faz.

 

Risco de Quebra, ou simplesmente ROR (Risk of Ruin), traduz o risco que você corre de ir a falência em função de operar arriscando determinada parcela do seu capital apoiado em determinado histórico de Índice de Acerto (Win Ratio) e Índice de Retorno (Payoff Ratio).

 

Índice de Acerto e Índice de Retorno são variáveis que não dependem da sua escolha. Elas dependem da eficiência do sistema de operação adotado. Porém, depende de você determinar qual é a parcela do seu capital que será exposta ao risco a cada operação realizada.

 

A tabela de ROR informa então, dada uma combinação de Índice de Acerto, Índice de Retorno e Parcela de Capital Exposta ao Risco, qual é a chance de quebra implícita em sua operação.

 

Apenas a título de exemplo: Se você trabalhar com um sistema de operação com Índice de Acerto de 25%, Índice de Retorno de 1:1 e a cada operação expor 10% do seu capital ao risco, você tem 100% de chances de perder todo o seu capital no longo prazo.

 

Abaixo apresentamos uma tabela ROR com mais exemplos, a título de informação.

 

Tabela ROR de Exemplo

 

É importante saber que você não precisa ser matemático e nem saber de cálculos para fazer uso da tabela ROR. Você precisa apenas entender os princípios que a regem, bem como ficar ciente que a variável que cabe a você determinar em uma operação, isto é, a definição da parcela do capital que será exposta ao risco, fará toda a diferença para o seu sucesso ou fracasso como investidor.

 

Assim, a tabela ROR nos será útil na definição da parcela de capital que devemos expor ao risco em cada operação. Utilizando a tabela ROR, em conjunto com a Fórmula de Kelly, conseguiremos definir a parcela que irá melhor equilibrar o risco e o retorno.

 

 

ÍNDICE DE RETORNO

 

Ganho mais do que perco?

 

O Índice de Retorno expressa a lucratividade do seu sistema de operação, informando assim quantos reais você ganha para cada real que você perde.

 

Quanto maior for o Índice de Retorno, melhor. Se o seu sistema de operação tem um Índice de Retorno de 3:1 (três reais ganhos para cada real perdido), excelente. Se o Índice de Retorno é 1:1, então algo tem que ser melhorado. E se o Índice de Retorno for abaixo de 1:1, fica praticamente inviabilizada a utilização deste sistema de operação.

 

A fórmula para se calcular o Índice de Retorno é:

 

PR = (Média dos Ganhos % Obtidos nas Operações Bem Sucedidas) / (Média das Perdas % Obtidas nas Operações Mal Sucedidas)

Tome o seguinte exemplo:

 

Operação A: lucro de 1%

Operação B: lucro de 5%

Operação C: lucro de 3%

Operação D: prejuízo de 1%

Operação E: prejuízo de 1%

Então:

Média % dos Ganhos = (1 + 5+ 3) / 3 = 3%

Média % das Perdas = (1 + 1) / 2 = 1%

 

Índice de Retorno ou PR = Média % dos Ganhos / Média % das Perdas = 3:1 = 3

Como podem ver, a lógica aqui aplicada é bastante simples. Agora três observações de suma importância:

 

1) Note que trabalhamos o Índice de Retorno utilizando os valores percentuais de perdas e lucros, e não os valores absolutos. Isso é feito para evitar que o Índice de Retorno seja distorcido a medida que o valor de capital utilizado nas operações aumente. Utilizando valores percentuais, todos os históricos de operação gerados no tempo terão peso igual na definição do Índice de Retorno do seu sistema de operação.

 

2) O Índice de Retorno, por si só, não consegue dizer de forma absoluta se um sistema de operação é ótimo ou péssimo. Se olhado de forma isolada, ele serve apenas para dar indícios, mas não conclusões. Para se chegar a conclusões deve-se cruzar o Índice de Retorno com o Índice de Acerto. Fato é que quanto maior for o Índice de Retorno, menor será a necessidade de se ter um Índice de Acerto alto para se obter um sistema rentável no longo prazo, e vice-versa. Qual seria o melhor dos mundos? Alto Índice de Acerto aliado a um Alto Índice de Retorno.

 

3) Por questões emocionais e comportamentais, o ser humano tem mais dificuldade de seguir um sistema muito "desequilibrado". Um sistema que se apresente lucrativo em função de um altíssimo Índice de Retorno e um baixo Índice de Acerto é um sistema desequilibrado. Isso gera muita variação na sua curva de capital (em um post futuro trataremos este conceito, conhecido como DRAWDOWN) e exige um esforço enorme nas questões de disciplina e controle emocional. Por isso damos preferência a operar sistemas lucrativos e equilibrados.

 

 

ÍNDICE DE ACERTO

 

Qual é a probabilidade de você acertar no alvo?

 

O Índice de Acerto identifica a probabilidade inerente a um sistema em produzir operações lucrativas, absolutamente falando. Para efeito de cálculo do Índice de Acerto não há diferenciação quantitativa entre operações, isto é, o fato de uma operação ser mais ou menos lucrativa não é levado em consideração. A diferenciação é apenas qualitativa, entre operações que geraram prejuízo e operações que não geraram prejuízo.

 

Tome o seguinte exemplo:

 

Operação A: lucro de 1%

Operação B: lucro de 10%

Operação C: prejuízo de 1%

Operação D: prejuízo de 20%

 

Para efeito do cálculo do índice, temos duas operações bem-sucedidas e duas operações mal-sucedidas.

 

Posto isso, temos a fórmula para determinar o Índice de Acerto:

 

WR = Número de Operações Lucrativas / Número Total de Operações

Voltando ao exemplo acima, o Índice de Acerto é de 50%, pois:

 

WR = 2/4 = 0.5 (50%)

 

O índice obtido torna-se mais confiável a medida que é gerado a partir de um histórico maior de operações. A confiabilidade de um Índice de Acerto de 50% obtido a partir de um histórico de quatro operações (exemplo acima) é, por assim dizer, menos estável do que um índice de 50% obtido a partir de um histórico de 100 operações, por exemplo. Daí que este índice deve ser recalculado a cada encerramento de operação.

 

Essa informação, extremamente simples, é um dos componentes principais das fórmulas de Money Management que determinam a melhor alocação do capital. E apesar de ser extremamente simples, ela só faz sentido se gerada a partir de um sistema de operação claro e bem definido.

Este é mais um dos benefícios da utilização de sistemas para definição das operações. Além de extrair o fator emocional da análise, também constrói os fundamentos para que se possa trazer ciência para melhorar o planejamento e os resultados obtidos.